De briga de trânsito a crime encomendado: Fantástico revela reviravolta em caso de tentativa de homicídio em SP

  • 24/08/2025
Reviravolta em investigação de tentativa de homicídio em São Paulo Reviravolta na investigação de ataque cercado de mistério em São Paulo. Um atirador descarregou a arma em um carro onde estavam um casal e uma criança. Por sorte, todos sobreviveram. Os investigadores chegaram a tratar o caso como briga de trânsito. Mas, oito meses depois do atentado, descobriram que o crime está ligado a um desvio milionário em uma das principais cooperativas de saúde do país. Era sábado, 14 de dezembro do ano passado. Um carro preto seguia pela zona leste de São Paulo. Outro veículo ia atrás dele. O sedã estacionou. O carro cinza parou no meio da rua. Depois, tudo aconteceu muito rápido. Foram dez segundos que redefiniram a história de um casal e o filho de dez anos. Logo após os tiros, a polícia começou a buscar imagens registradas por câmeras de segurança da região. Não demorou para os investigadores terem em mãos uma sequência de cenas, antes e depois do crime. Às 3h47, meia hora antes do atentado, um homem de agasalho e calça jeans caminhava por uma rua próxima. A câmera registrou bem o rosto dele. Segundo as investigações, ele era um dos ocupantes do carro que seguia a família. “A gente estava em um evento no clube de futebol do meu filho. E, ao sair do clube, a gente estava indo para casa”, lembra a vítima. “Aí eu presenciei um carro tentando me ultrapassar. Eu achei uma manobra arriscada. E eu bloqueei, não deixei que ele ultrapassasse. Mas ali, naquele momento, não houve nenhuma discussão, não houve nenhum xingamento, não houve nada”, diz outra vítima. “Se fosse uma briga de trânsito, naturalmente ele teria que atirar no motorista. Não tinha fundamento para que ele atirasse na passageira.", diz o advogado da família. Às 4h18, o homem de agasalho desceu com a arma na mão. “E aí, quando eu percebi, ele já tava aqui, já disparando, já contra a minha esposa. E ele descarregou a arma", diz o homem. “A única coisa que veio na cabeça foi o meu filho, no momento. E mais nada”, diz a mulher. Foram 11 tiros. Sete atingiram a mulher — no rosto, no ombro, no braço e na mão. O atirador entrou no carro, que voltou de ré pela rua. Mesmo ferido, o marido gritou por socorro. “Você tá numa situação ali, desesperadora. Eu nem percebi que eu tava ferido. Meu filho tava no banco de trás. Graças a Deus, não acertou nenhum disparo nele. Ele tocou a campanha do vizinho, pedindo socorro lá pra poder ajudar a gente, né? Depois ali foi um milagre de Deus pra ela sobreviver e ficar bem, sabe?”, diz o homem. Na fuga, os criminosos bateram o carro em frente a uma delegacia, a um quilômetro da casa da família, e fugiram a pé. Foi justamente o veículo que permitiu à polícia descobrir a motivação do crime. As informações da placa levaram os investigadores ao dono do carro. Segundo a polícia, Júlio César Benício de Medeiros emprestou o carro para que outros dois homens executassem o atentado. Tiago Ferreira foi flagrado correndo um minuto após o crime, perto do local onde o carro foi abandonado. Os policiais acreditam que ele dirigia o veículo. Já Rafael Rosa da Silva seria o atirador. Ele aparece antes e depois do atentado, usando a mesma roupa de quem efetuou os disparos. Mas Júlio César, Tiago e Rafael seriam apenas parte da organização criminosa. Depois de oito meses de investigação, a polícia descobriu que o crime não tinha relação com briga de trânsito. A verdadeira motivação estava no trabalho da vítima, que atuou como analista financeira por 17 anos. A mulher trabalhava na sede da Unimed Nacional, no centro de São Paulo, uma das principais cooperativas de saúde do país. “A minha esposa tinha uma conversa no WhatsApp com a gerente dela. E lá ela mencionava um suposto desvio de dinheiro que estava acontecendo lá na empresa”, diz o homem. A suspeita partiu de um e-mail a que o Fantástico teve acesso, que cobrava R$ 800 mil para um fundo de investimentos. A mensagem trazia a assinatura e a marca da concessionária Comgás. Mas, na verdade, a Comgás não tinha relação com a cobrança. O dinheiro ia para uma empresa fantasma com nome parecido: “C-Gás Fundo de Investimentos Ltda.” “Queria ali, camuflar esse nome pra que ninguém percebesse que o dinheiro que tava sendo gasto na verdade não era pra concessionária de serviço público e sim pra empresa montada por ela e pelo contador”, diz o delegado-geral de polícia de São Paulo, Artur Dian. A vítima percebeu o truque. “Saiu da nossa conta, indo pra esse C-Gás. E o CNPJ tá diferente também", diz ela. Ela avisou à gerente que uma colega estaria envolvida no desvio, mas não adiantou. “Ela simplesmente acreditou nessa outra funcionária e não deu andamento na denúncia que eu fiz na época”, diz a vítima. Bruna Perugine Teixeira era analista financeira no mesmo setor da Unimed. Segundo a polícia, ela arquitetou os desvios de dinheiro e também planejou a morte da colega. “Pra tirar eu do caminho ali que eu tava, que eu que descobri esse desvio, ela solicitou fazer esse homicídio contra mim”, diz a vítima. “Ela mostra a frieza de mandar uma mensagem, um vídeo para essa vítima e se solidarizando”, diz o delegado. A investigação descobriu que Bruna montou a “C-Gás Fundo de Investimentos” junto com o contador Danilo Araújo de Souza. Nas redes sociais, Danilo gostava de postar fotos aproveitando a vida em viagens ao exterior. Extratos bancários mostram várias transferências da Unimed nacional para a empresa fantasma. Em 8 de outubro do ano passado, a cooperativa pagou R$ 145 mil para a C-gás. No mesmo dia, Danilo recebeu da c-gás um pix de R$ 146 mil. Extratos bancários mostram várias transferências da Unimed Nacional para a empresa fantasma. Em outubro do ano passado, a cooperativa pagou R$ 145 mil à C-Gás. No mesmo dia, Danilo recebeu da C-Gás um Pix de R$ 146 mil. Ao todo, Bruna e Danilo teriam desviado mais de R$ 4,8 milhões da Unimed. “Eu, de início, não acreditava. Eu não acreditava que tinha partido dali, que foi alguma colega dela de trabalho", diz o homem. A polícia comprovou a ligação entre os desvios e o atentado contra a família. A empresa C-Gás fez várias transferências para Maurício Mafran Bonfim, apontado como laranja. Segundo a investigação, foi ele quem pagou os dois autores do atentado. O extrato mostra que, logo depois de receber dinheiro da C-Gás, Maurício repassou valores para Rafael Rosa da Silva, o atirador. "Não há dúvida alguma que o intuito era ceifar a vida, pelo menos dela, mas acredito que dos dois”, diz o delegado. Ao saber que poderia ser presa, Bruna Perugine desapareceu. O carro dela foi abandonado e a família chegou a pedir informações sobre o paradeiro. Para a polícia, tudo era encenação. “Ela também efetuou essa falsa comunicação de crime, o desaparecimento, pra também tentar escapar do crime”, diz o delegado. O sócio da C-Gás, Danilo, o atirador Rafael e o motorista Tiago também estão foragidos. Os advogados de Rafael e Tiago disseram que vão provar a inocência de seus clientes. A defesa de Bruna e Danilo sustenta a presunção de inocência dos dois. Os advogados afirmam ainda que Danilo só vai se apresentar se for revogada sua prisão temporária e que Bruna encontra-se desaparecida. Maurício Mafran, apontado como laranja do esquema, responde em liberdade. A defesa dele não foi encontrada para comentar. O único preso é Júlio César, dono do carro usado no atentado. “Posso falar, senhor, que eu não tenho envolvimento nenhum com isso”, diz Júlio César. A Unimed afirma que instaurou uma apuração interna rigorosa, que resultou no desligamento dos profissionais envolvidos. “Um crime desse sem esclarecimento, por exemplo, jamais saberíamos o que aconteceu, né? A gente consegue dar essa resposta pra família, pra que ela consiga, mesmo depois dessa tragédia, sobreviver e continuar sua vida”, diz o delegado. Mas, para seguir em frente, a família espera que todos os envolvidos sejam presos. Quem tiver informações sobre os foragidos pode ligar para o Disque Denúncia, no número 181. Não é preciso se identificar. Hoje, oito meses depois do crime, o casal ainda se recupera dos ferimentos. “Ela já fez três cirurgias para reconstrução da mandíbula. Ela tá sem o movimento da mão direita, né?”, diz o homem. As sequelas não são apenas físicas. “Meu filho passa por um psicólogo, a minha esposa, eu também passo. A gente mudou de cidade por conta de tudo isso aí. É superar tudo isso, né? Começar a reconstruir, voltar a sonhar. Viver a vida que nós vivíamos, sabe?” Ouça os podcasts do Fantástico ISSO É FANTÁSTICO O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts, trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo. PRAZER, RENATA O podcast 'Prazer, Renata' está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts. Siga, assine e curta o 'Prazer, Renata' na sua plataforma preferida. BICHOS NA ESCUTA O podcast 'Bichos Na Escuta' está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts.

FONTE: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2025/08/24/de-briga-de-transito-a-crime-encomendado-fantastico-revela-reviravolta-em-caso-de-tentativa-de-homicidio-em-sp.ghtml


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