(Foto: Reprodução) Quem nunca teve um dia em que a cabeça pareceu estar em outro mundo? Dificuldade para se concentrar, perder o foco em uma reunião, esquecer um compromisso ou pagar uma conta pode acontecer com qualquer pessoa - principalmente em momentos de estresse ou sobrecarga emocional. Entretanto, resolvido o desconforto, a mente tende a se reorganizar e tudo volta ao lugar.
Mas e quando esses sintomas são persistentes e afetam significativamente a produtividade no trabalho, os relacionamentos interpessoais e a saúde mental? Nesse caso, é hora de buscar ajuda especializada para o diagnóstico adequado, pois pode tratar-se do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), é classificado como um transtorno do neurodesenvolvimento que pode se manifestar de três formas: predominantemente desatento; predominantemente hiperativo-impulsivo; e o tipo combinado - quando os dois grupos de sintomas estão presentes.
Embora o transtorno seja frequentemente associado ao universo infantil, sendo mais perceptível no início da escolarização, muitas pessoas chegam à idade adulta sem diagnóstico ou tratamento, mas com grande sofrimento, em razão da baixa autoestima desenvolvida ao longo dos anos e do impacto em diversas áreas. São comuns relatos de dificuldades no ambiente de trabalho, como problemas na gestão do tempo, procrastinação, atrasos nas tarefas e desorganização das atividades. Outros sintomas também podem estar presentes, como agitação interna, interrupções frequentes em conversas, dificuldade em relaxar ou em controlar reações emocionais. Além disso, alguns adultos com TDAH têm maior risco de desenvolver outros transtornos, como ansiedade, depressão e até o uso abusivo de substâncias, agravando ainda mais o quadro.
Nos relacionamentos afetivos, é comum que essas pessoas sejam alvo de críticas devido à frequência com que se esquecem de compromissos e datas importantes— como aniversários — ou deixam de realizar tarefas domésticas rotineiras, como fechar a torneira ou pagar contas. Esses comportamentos podem parecer desinteresse ou até provocação, quando, na verdade, são manifestações do transtorno. Quando se repetem, é comum surgirem conflitos e, em casos mais extremos, levar à ruptura conjugal, uma vez que dificilmente se considera a possibilidade de que tais atitudes sejam decorrentes de um possível quadro de TDAH, sendo interpretadas como desleixo ou falta de comprometimento.
Rótulos depreciativos como “preguiçoso”, “irresponsável” ou “desorganizado”, geralmente atribuídos por desconhecimento sobre o transtorno, comprometem, ao longo do tempo, a autoestima e o senso de competência de quem tem o diagnóstico.
Identificar o TDAH na vida adulta é o primeiro passo para melhorar a qualidade de vida. O diagnóstico deve ser realizado por profissionais capacitados, como psiquiatras ou neurologistas, com apoio de avaliação neuropsicológica, a fim de distinguir o TDAH de outras condições clínicas com sintomas semelhantes e, assim, evitar interpretações equivocadas. Ainda assim, o desafio maior é promover a conscientização daqueles que convivem com a pessoa que foi diagnosticada, para que compreendam que esse jeito “desligado ou acelerado de ser”, tem origem em questões biológicas e não em comportamentos intencionais. Créditos: Joselene Lopes Alvim- psicóloga